domingo, 20 de março de 2016

Mensagem do Bispo Diocesano para a Quaresma 2016


A Quaresma de 2016 não pode ser simplesmente como as anteriores. Ela coloca-se no coração do Ano Santo da Misericórdia. Isto impõe que demos um tom apropriado ao percurso dos quarenta dias que preparam a Páscoa, como nos sugere o Papa Francisco: “A Quaresma deste Ano Jubilar seja vivida mais intensamente como tempo forte para celebrar e experimentar a misericórdia de Deus”(MV 17) e assim a nossa vida adquira um espírito e estilo de misericórdia.
O Santo Padre acaba de publicar a sua mensagem para a Quaresma com o sugestivo título “Prefiro a misericórdia ao sacrifício (Mt 9, 13). As obras de misericórdia no caminho jubilar”. Nela oferece-nos propostas concretas. Destaco as seguintes.
Escutar a Palavra de Deus
“A misericórdia de Deus transforma o coração do homem e fá-lo experimentar um amor fiel que o torna por sua vez capaz de misericórdia”. Para isso devemos primeiro pôr-nos à escuta da Palavra de Deus. Só assim podemos descobrir o rosto misericordioso do Pai, aprofundar a riqueza da misericórdia e as atitudes correspondentes no nosso estilo de vida e nas relações. Para este efeito temos à disposição o retiro popular sob o lema “A graça da misericórdia sob o olhar de Maria”. Peço encarecidamente a todas as comunidades o melhor empenho na organização desta caminhada espiritual.
Também a iniciativa ”24 horas para o Senhor”, a realizar nos dias 4 e 5 de março, é uma oportunidade de escuta orante da Palavra num momento intenso de oração e adoração: “A misericórdia de Deus é de facto um anúncio ao mundo: mas cada cristão deve fazer pessoalmente experiência de tal anúncio”.
Este momento deverá ser bem preparado para que tenha qualidade e envolvência de grupos e movimentos das comunidades. É aconselhável que aí também seja oferecida oportunidade para o sacramento da reconciliação.
Celebrar o sacramento da reconciliação
A valorização do sacramento da reconciliação é um dos aspetos que mais deve caraterizar a renovação espiritual e pastoral do Ano da Misericórdia. Neste sentido, o Papa faz um apelo premente: “Com convicção ponhamos novamente o sacramento da reconciliação no centro, porque permite tocar sensivelmente a grandeza da misericórdia. Será, para cada penitente, fonte de verdadeira paz interior”(MV 17).
Por conseguinte, é necessário redescobrir a importância deste sacramento. Embora todos os sacramentos sejam sinal da misericórdia de Deus, o sacramento da penitência e da reconciliação é o momento e o lugar em que experimentamos a compaixão de Deus do modo mais direto, mais imediato, mais íntimo e mais concreto e recebemos o dom do perdão quando em nome de Jesus nos é dito: “Os teus pecados estão perdoados”, com a fórmula da absolvição.
Antes de colocar o acento nas obras do penitente ou na fadiga da confissão, devemos colocá-lo primeiramente na confiança na graça do perdão, no que Deus é capaz de realizar em nós. Assim, na catequese e na pastoral deve-se evidenciar que se trata de um sacramento da cura e, por isso, da alegria: a alegria do perdão, do regresso à casa do Pai, da cura das feridas interiores, da reconciliação com Deus e com os outros, de reencontrar e aprofundar o gosto do bem, de readquirir a serenidade e a paz interior, de progredir no caminho da conversão
A atitude dos ministros do sacramento – os confessores – deve ser a de um pai. A sua primeira tarefa é acolher mesmo quem se encontra em situações difíceis: um acolhimento cordial, compassivo, paciente e respeitador da dignidade e da história pessoal de cada penitente. Enfim, como afirma o Papa Francisco, “todos deveriam sair do confessionário com a felicidade no coração, com o rosto radiante de esperança”.
Praticar as obras de misericórdia
O tempo da Quaresma é também ocasião para viver e testemunhar a misericórdia com gestos concretos. O Santo Padre insiste pois na prática das obras de misericórdia.
Como não desejar que todo o povo cristão – pastores e fiéis – redescubra e ponha, de novo, no centro as obras de misericórdia corporais e espirituais durante o Jubileu?
E quando no entardecer da vida nos for perguntado se demos de comer a quem tem fome e de beber a quem tem sede, de igual modo nos será perguntado se ajudámos as pessoas a sair da dúvida, se nos esforçámos a acolher os pecadores, advertindo-os ou corrigindo-os, se fomos capazes de combater a ignorância, sobretudo aquela que se refere à fé cristã e a uma vida boa. Esta atenção às obras de misericórdia é importante: não são uma devoção. É a concretização de como os cristãos devem pôr em prática o espírito de misericórdia.
Nestes anos, uma vez recebi um movimento importante na Aula Paulo VI e fiz a pergunta. “Quem de vós recorda bem quais são as obras de misericórdia corporais e espirituais? Quem as recorda, levante a mão”. Não foram mais de vinte pessoas a levantar a mão, numa sala onde estavam sete mil. Devemos começar de novo a ensinar aos fiéis esta realidade que é tão importante”.
Sugiro pois que cada um de nós faça o propósito de praticar, ao longo da quaresma, uma obra de misericórdia corporal e outra espiritual.
Também nesta perspetiva anuncio que o contributo penitencial desta Quaresma se destina a uma iniciativa de apoio social e económico a grávidas em dificuldade, que vamos implementar na nossa diocese através da Cáritas Diocesana. Não basta lamentar-se da chaga do aborto; são precisas iniciativas concretas para prevenir.
Com Maria, Mãe de Misericórdia
Nesta caminhada quaresmal insere-se ainda a nossa peregrinação diocesana a Fátima no V domingo da Quaresma, a 13 de março, sinal do nosso caminhar juntos como Igreja “Com Maria, Mãe de Misericórdia”. Peço que nas comunidades se incentive uma boa preparação.
“Não percamos este tempo de Quaresma favorável à conversão”, como pede o Santo Padre. É tempo para crescer na escuta da Palavra, no acolhimento do perdão de Deus no sacramento da reconciliação e no exercício das obras de misericórdia para abrir os olhos e o coração aos pobres e aos que sofrem. O canto do Magnificat da Virgem Maria, mãe de Misericórdia, ajuda-nos a todos a ver a nossa história, pessoal e coletiva, com o olhar de Deus misericordioso “que derruba os poderosos e exalta os humildes”.
                                                                                    
                                                   António Marto, bispo diocesano de Leiria-Fátima

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